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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Apenas três palavras

Era Reveillon, todos com suas melhores roupas brancas, trocando desejos de felicidade, amor e paz em meio a abraços e sorrisos. Depois de muito procurar, ele a encontrou sozinha em um canto qualquer do jardim chorando. Ponderou se era certo incomodá-la nesse momento tão seu, mas era tarde para ir embora, ela o havia visto.
- Divertida a festa né?
- Não tanto assim, faltava alguém – ele repondeu calmamente.
Ela tenta em vão secar as lágrimas que estragam a maquiagem antes perfeita. Porque ele apareceu justo agora? Aquele garoto misterioso e cafajeste tinha algo que a hipnotizava,algo que a fazia amá-lo e odiá-lo quase com a mesma intensidade. Eles nunca poderiam ficar juntos, já haviam tentado, mas ele fora incapaz de demonstrar seus sentimentos mesmo depois de vê-la se humilhando dizendo que o amava e esperando as mesmas palavras em troca.
- O Chad vai embora amanhã, nós terminamos tudo. – Ele a segura pelas mãos tentando acalmar as lágrimas que agora parecem intermináveis. Como ele é tolo, não sabe que as lágrimas nunca foram pelo Chad. São ciúme por vê-lo com outra garota, a raiva por não conseguir esquecê-lo, são pura impotência por não poder fazer nada que mude essa situação.
- Ele não te merecia, nunca mereceu – ele agora sabia disso, ninguém seria bom o suficiente para ela, ninguém além dele. Apenas ele podia compreender as confusões e momentos de carência dela, o orgulho e o instinto de querer ser sempre a mais forte. Já a perdera uma vez, não cometeria o mesmo erro.
- Eu... eu preciso te dizer... – Ele se perdia novamente nas palavras, precisava terminar aquela frase, precisava conquistar de novo a garota que agora ele segurava firmemente as mãos. – Eu... eu... – O mundo parecia ter parado, os dois imóveis, o olhar dela fixo no dele, esperando algo mais.
- Eu te amo.
Era tudo que ela mais quis escutar, uma voz dentro dela dizia para ir embora, deixá-lo ali, humilhado como ela um dia foi, mas ela não era forte o suficiente para isso. Não havia um príncipe em um cavalo branco como ela um dia havia sonhado, apenas um garoto que a completava em todos os defeitos e qualidades. Tudo o que ela mais desejava estava agora ali, na sua frente.
- Eu também te amo.
O coração dele volta a bater num compasso mais calmo. Ele a puxa calmamente mais para perto de si e as bocas se encontram, num beijo tão esperado.
A sua garota dos cabelos castanhos e sorriso lindo está agora em seus braços, e não vai mais sair.

Melhores amigos para sempre

Foto retirada do We heart It

Um garoto e uma garota, um violão e o céu azul. Parece tudo tão banal não é? Mas se olhar mais de perto poderá ver que há muito mais para se descobrir.

Eles cresceram juntos. Ele a ensinou a jogar futebol, ela o obrigava a brincar com suas barbies, e ente passeios de bicicleta, brincadeiras e sorrisos, se tornaram melhores amigos. A infância ficou para trás, e eles passaram a compartilhar conselhos, segredos e paixões. Ela o ajudou a descobrir seu talento na música, ele a ajudou a descobrir que ela era, mas o essencial entre os dois ainda não foi descoberto.

Deitada na grama ela imagina como seria se ele soubesse que cada nota combina perfeitamente com o ritmo do seu coração, que gostaria de ser a musa inspiradora, e que daria tudo para poder chamá-lo de outra coisa que não amigo.

Tocando o violão ele imagina se ela sabe que cada verso foi feito para ela, que ele sonha com um beijo dela, e que o que mais deseja é parar de chamá-la de amiga.

Os dois continuam em silêncio, sorrisos e olhares que dizem sempre algo mais, mas que se perdem em meio ao medo de estragar tudo o há entre eles. Amanhã ele viaja para gravar o primeiro Cd da sua banda, ela vai para a Inglaterra cursar moda. Prometeram que nunca vão perder contato, ela brinca que quando a banda dele fizer turnê pela Inglaterra, o primeiro ingresso será dela, ele sorri e concorda.

Mas isso é amanhã, e eles permanecem ali, conversas amenas, sem pensar no futuro, afinal, há tanto pra falar, e tanto a esconder.

Apenas um garoto e uma garota, um violão e céu azul, e um beijo que paira sobre eles, um beijo nunca dado, mas que será lembrado para sempre.

Para a garota que um dia eu fui

Olá, nem sei como começar direito essa carta, nem ao menos sei porque tenho essa chance, mas enfim, vou tentar dar os melhores conselhos possíveis, quem sabe assim eu mude algo no seu futuro.
Sei que faltam apenas alguns meses para você finalmente fazer os tão sonhados 18 anos! Sim, eu sei o quanto você espera por isso, a vontade enorme dessa ilusão liberdade que esses dois dígitos nos passam. Você quer poder dirigir, conhecer novos lugares, sair sem ter hora pra voltar, poder andar com as próprias pernas e não ter que dar satisfação a ninguém.
E é por isso que eu peço pra que você vá com calma. Não sei ao certo se posso te contar tudo o que quero, mas nas linhas a seguir segue um pouco das suas futuras decisões.
Você ignorou o garoto que tanto te ama - e que você ama também – porque agora vai poder sair pra onde quiser, pois já tem a carteira de motorista e a idade necessária para entrar em todos os lugares, e não esqueça, para ser presa também. Vai fugir de casa, largar a faculdade e viajar para um outro país, sim você tem um dinheiro guardado, a poupança que seu pai economizou anos para garantir o seu futuro, e com ele você vai conhecer Londres, pois esse sempre foi o seu sonho. Vai ser finalmente a garota rebelde que sempre quis, agora você tem 18anos, apenas seus sonhos na mão, sem compromissos e preocupações, mas deixa eu te contar apenas uma coisa, o mundo não te deixa ser assim pra sempre.
Você tinha 24 anos, nunca mais ligou para casa, o dinheiro que tinha há muito já acabara, e você estava sozinha em um país que não conhecia. Não tinha amigos, mas conheceu um cara lindo que disse que podia arranjar tudo para você, e você ingênua acreditou. Ele te levou para conhecer alguns amigos dele, disse que o trabalho era fácil, mas que a grana era alta. Tranqüilize-se, o seu trabalho não era nas noites de Londres, pelo contrário, ele fez com que você conhecesse também outros países. Você era popularmente chamada de mula. Logo você, que nunca pensou em se envolver com drogas, estava levando-as no estômago em pequenos embrulhos que você rezava para não estourarem.
Seu aniversário de 28 anos, a última “carga” e você estaria livre para ir onde quiser, mas algo de errado aconteceu, você estava passando mal. Sem nunca ter experimentado cocaína, você vai morrer devido ás drogas que engoliu. No fundo você sabia que só haveria dois jeitos disso tudo acabar: ou morreria, ou seria presa. E nas duas opções, você estaria sozinha. Mas, por um acaso do destino uma boa alma te levou para o hospital, e em meio às luzes algo estranho aconteceu.
Me entregaram papel e caneta, e me disseram que eu posso mudar, que eu posso ter uma nova chance se eu conseguir te fazer mudar de idéia. Então, minha garotinha de 17 anos, não estrague nossas vidas. Saiba que seus sonhos podem sim se tornar realidade, você pode sim ter toda a liberdade que sempre sonhou, mas temos que ir devagar. Não se torne parte das estatísticas de pessoas que morrem todos os dias por não terem feito o melhor de suas vidas, tente fazer a diferença, ser alguém melhor e não jogar tudo pro alto por um sonho infantil. Assuma as responsabilidades que os teus 18 anos te trazem, não jogue oportunidades boas no lixo, e nunca tente matar dentro de você a menina que você sempre foi.
Saudades
T.
post para o Blogueando

terça-feira, 13 de abril de 2010

Essa música...


Foto retirada daqui : http://snuh.tumblr.com/post/74829482/dawkman-blackadder-via-manuschristi


Ele carrega consigo o peso dos seus 78 anos. As pernas não mais o obedecem, mal o sustentam nessa breve caminhada, e a bengala há muito se tornou sua única companheira.

Ela, com seus passos lentos, atravessa sozinha a longa calçada perdida em seu próprio mundo, seus 73 anos não permitem que seja diferente.

E eis que por um breve segundo - um daqueles segundos que valem a vida inteira - os olhares se cruzam. Ele enxerga na curvada senhora a garota que um dia ela foi, a bailarina que cruzava os palcos na sapatilha de ponta, como se fosse uma daquelas frágeis bailarininhas das caixinhas de música. Ela vê dentro dos olhos cansados o homem que anos atrás arrancava suspiros e palmas da platéia enquanto o corpo se movia no ritmo da música.

Palavras não se fazem necessárias, nessa idade elas são facilmente esquecidas, e os dois anciões continuam seus caminhos, agora com um sorriso no rosto. Por um momento, um breve momento que seja, alguém os olhou nos olhos, alguém enxergou mais além do que as mãos enrugadas e o cabelo grisalho. E hoje pode ser que as pernas não mais os obedeçam, os braços não possuam a mesma graciosidade de antes, mas o coração de ambos dança uma música que antes estava esquecida, essa doce e complexa música chamada vida.


Post para o Mil palavras
ps: eu não sei ainda arrumar os links, se alguém puder me ajudar eu agradeço.

domingo, 4 de abril de 2010

A garotinha do quarto ao lado



Ela apareceu quando eu já havia me acostumado a ser filha única, afinal 7 anos vivendo como a “princesinha” da casa faz você se acostumar com algumas regalias, mas nunca tive aquele ciúme terrível que toda irmã tem, pois, sem paciência como a pequena é, decidiu vir um mês antes do esperado, dando um susto em todos e quase não ficando muito tempo por esse mundinho aqui. Acho que foi esse medo de perder o bebezinho (que mais parecia um ratinho) que fez com que o ciúme não existisse.

Nós já tivemos, e passamos, da fase dos puxões no cabelo, beliscões e algumas outras agressões físicas um pouco mais sérias (onde sempre eu saia mais machucada) – sim, a gente apelava pra violência, mas atire a primeira almofada quem nunca fez isso -, hoje as brigas são mais verbais. Mais do que normal não é. Não é fácil não gritar quando você vê a maquiagem na qual gastou toda a mesada espalhada pelo chão, o brinco preferido partido ao meio, ou o trabalho que você levou horas pra fazer excluído do pen drive porque ela achou que não era importante. Sim, é coisa de criança, coisa de irmã mais nova. Os pais tentam apaziguar da melhor maneira, ensinam que irmãs não devem se comportar assim, perguntam onde fica o respeito, o amor, o carinho que tanto ensinaram, mas de nada adianta, continuamos com os gritos, o que não significa que não nos damos bem também.

A garotinha que tanto me “atazana”, e que vai ser meu bebezão pra sempre (independente de ter os 10 anos que já tem), é aquela pessoinha que eu mais amo. Minha confidente, com quem eu fico até tarde conversando, que me faz rir das coisas absurdas que imagina, que tem aquele abraço sempre preparado quando eu preciso. Posso reclamar muito de algumas coisas que ela faz, mas defendo a minha pequena com unhas e dentes quando alguém fala alguma coisa, e sei que ela faz isso também. Confesso que me assusto quando escuto ela em falar que é em mim que ela se espelha - imagina, logo em mim! - mas irmã mais velha é assim, e cada vez que escuto isso é um incentivo pra que eu me supere um pouco mais, queira ser um pouco melhor, e morro de orgulho quando é pra mim que ela conta os segredos ou pede algum conselho.

Não sei como existem pessoas que preferem ser filhos únicos, sim, dividimos a atenção dos pais e de mais pessoas, mas hoje não saberia mais viver sem a menina do cabelo cacheado que dorme no quarto ao lado, porque além de sermos irmãs, nós somos amigas.