Páginas

domingo, 24 de abril de 2011

Te esperar

Tarde da noite e eu ainda estou aqui. Olhos vidrados, ouvidos atentos. Esperando pacientemente que você decida entrar por aquela porta e fazer tudo ter sentido outra vez.
Ainda faltam algumas horas pra que você finalmente se dê conta de que já é tarde demais, que as crianças já dormiram, os mercados já fecharam e as poucas pessoas pela rua já procuram por abrigo. Mas você sabe que aqui nunca é tarde.
Enquanto ela dorme você levanta de fininho, da mais um beijo no garoto que dorme no quarto ao lado e abre a porta silenciosamente. O carro mal é visto quando sai da garagem - o porteiro nesses momentos é cego. As ruas estão vazias e você sorri já imaginando o que lhe espera.
Olho mais uma vez a porta fechada, em minha mente visualizo nossa briga: eu grito que não quero mais você aqui, você insiste, diz que me ama que não vai embora, mas eu te expulso do meu quarto, da minha casa, da minha vida. Te mando embora e durmo tranquila. Um sorriso pequeno surge em meus lábios, mas logo volto a roer as unhas pois lembro que você ainda não chegou.
A porta se abre, você surge pedindo desculpas pelo vinho que não trouxe, e eu digo que não importa. Com o coração aos pulos eu me agarro em você, enquanto sua mão corre lentamente pelo meu corpo. Um sussurro baixo no meu ouvido e depois estamos juntos em minha cama.
Os minutos passam, eu sorrio sozinha enquanto você me olha serio. Diz que não pode continuar assim, que eu não devia ter esperanças. Não vai durar para sempre. Mas ao mesmo tempo passa a mão de leve nos meus cabelos e beija delicadamente meu pescoço. Eu finjo que sei de tudo isso, que eu não me importo de nao te ter aqui.
"Amanha você volta, não volta?" Uma criança manhosa pedindo o presente que tanto quer. Você sorri e diz que não sabe, mas no fundo sabe que sempre volta.
Vejo o carro da janela, os farois se afastando. Fecho os olhos ainda sentindo teu cheiro aqui comigo.
Você segue pra sua vida, e eu continuo aqui, esperando que você volte para completar a minha.


ps: O título ficou uma catástrofe, mas eu não sabia o que colocar (na verdade eu nunca sei)

domingo, 3 de abril de 2011

Abra a felicidade

"Para cada pessoa dizendo que tudo vai piorar, 100 casais planejam ter filhos. Para cada corrupto existem 8 mil doadores de sangue. Enquanto alguns destroem o meio ambiente, 98% das latinhas são recicladas no Brasil. Para cada tanque fabricado no mundo são feitos 131 mil bichinhos de pelúcia. Na internet AMOR tem mais resultados do que medo. Para cada arma que se vende no mundo, 20 mil pessoas compartilham uma Coca-Cola. Existem razões para acreditar: os bons são maioria!"


Quando vi a propaganda da coca-cola pela primeira vez não pude deixar de sorrir. A idéia de comparar as coisas ruins desse nosso mundo com as coisas boas que existem nele foi brilhante, e acendeu uma centelha de esperança em mim.

Cresci ouvindo histórias onde reconhecíamos o mal na bruxa com uma berruga na ponta do nariz e a bondade no lindo príncipe e na princesa. Quando crescemos vimos que não é tão fácil assim fazer essa distinção.

A maldade está estampada em todos os jornais, nas cenas da TV, na nossa vizinhança. Está nas guerras, nas crianças que passam fome, nos assassinatos cruéis, na miséria em que milhares de pessoas vivem em nosso país, na Amazônia desaparecendo. A maldade esta em cada papel de bala que jogamos na rua, em cada ajuda que recusamos a uma pessoa menos favorecida, a cada gesto impensado que achamos que “não vai dar em nada”. A maldade está à nossa volta, está dentro de cada um de nós.

Porém, como ouvi uma vez em um conto infantil, temos dois lobos dentro de nós, um bom e um ruim, e nem todos deixam o lobo ruim vencer. Ainda existe o bem, e se olharmos com atenção poderemos enxergá-lo.

A bondade ainda está nos milhares de doações aos desabrigados pelas enchentes, nas ONGs que ajudam mais e mais pessoas. Está nas grandes companhias que buscam uma maneira sustentável de produzir, nas usinas de reciclagem que cada vez tem mais trabalho. Está nos pequenos gestos, no oferecer um prato de comida a quem tem fome, um abraço a quem precisa de carinho. Ainda há bondade à nossa volta, ainda há bondade dentro de nós.

Seria muito bom se pudéssemos extinguir a maldade do nosso mundo, expulsar daqui as pessoas que se recusam a fazer o bem, mas infelizmente um mundo onde a bondade impera não passa de utopia. Ainda haverá guerras por mera discordância de opiniões ou ganância, ainda haverá poluição pelas pessoas que não se preocupam com o futuro, ainda haverá fome devido às diferenças sociais, mas eu preciso acreditar que há salvação para o nosso mundo, ainda preciso acreditar que nossa situação pode mudar. Ainda preciso acreditar na humanidade.

Ninguém consegue ser bom sempre, afinal somos seres imperfeitos, erramos o tempo todo, mas tentar praticar a bondade todos os dias não é algo impossível. Um mundo melhor depende de cada um de nós, e tentar buscar por ele, mesmo que seja em pequenas porções, é um esforço válido.

E quem sabe um dia, num futuro não muito distante eu espero, possam ser 7 bilhões pessoas compartilhando uma coca-cola.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Vértices de um triângulo

Faz tempo que não te escrevo, mas hoje mais do que nunca precisava de você. Precisava do teu colo, teus conselhos, porque já não sei o que fazer. Por isso decidi colocar no papel as palavras que não posso te dizer pessoalmente, essas que estão me incomodando tanto.

Lembra que sempre ríamos dos filmes de romance? Daqueles triângulos amorosos sem sentido, onde para nós, meras expectadoras, era tão facil decidir qual dos garotos era o melhor? Pois é, na vida real as coisas não são tão engraçadas e tão fáceis assim.

Sei que o primeiro conselho que você me daria seria analizar as características de cada um e então ver com qual me identifico mais, mas é justamente aí que está meu problema. Foi o jeito diferente, cada mínimo detalhezinho de cada personalidade que me encantou.

Adoro o jeito timido de um, de não saber o que fazer quando me tem, e adoro o jeito desencanado do outro de saber exatamente o que tem que fazer pra me ganhar. Um pula e canta alto comigo pra todo mundo ouvir, o outro toca no violão e canta baixinho só pra mim. Um me passa a segurança que eu tanto procurei, o outro me dá liberdade e me faz sentir viva. Me perco nos mistérios dos olhos escuros de um, e me afogo na tranquilidade dos olhos claros do outro. Ambos tem aquele sorriso que me faz pensar que a vida pode ser melhor, no abraço de ambos eu encontro meu lugar.

Li uma vez uma frase do Johnny Depp que era mais ou menos assim: "se você acha que ama duas pessoas ao mesmo tempo, escolha a segunda. Porque se você realmente amasse a primeira, não teria uma segunda opção". Faz todo sentido não faz? Mas eu não sei quem entrou primeiro na minha vida, cada um foi conquistando um pedacinho de mim, e estao os dois tão enrolados aqui dentro que eu já não sei mais como tirar um deles do meu coração e do meu pensamento.

Os dois sabem o que eu sinto, e por isso ontem um deles disse que não queria me obrigar a escolher, mas que não conseguia mais continuar assim, não queria ser apenas um vértice desse meu triângulo amoroso.

Há tempo sei que não é justo com nenhum dos dois, mas vim adiando essa decisão porque sei que não há como sair dessa situação sem feridos. Vou acabar machucando um deles, ou ambos, e a mim, porque sei que não há nenhuma maneira de sair ilesa dessa história.

Meu senso lógico - sim, você sempre reclamou que eu sempre fui lógica de mais - antes funcionava, mas agora não consigo mais pensar racionalmente, essa confusão de sentimentos não deixa espaço para a razão.

Não espero que você me dê a resposta ou uma solução simples, mas precisava te escrever.


Sinto sua falta



T.