Nossa música voltou a tocar no rádio.
Quase não percebi, fui pega de surpresa, distraída fazendo qualquer outra coisa
com aquele som ao fundo, baixinho, e de repente os acordes que eu tanto
conhecia começaram a embalar meu coração.
Minha primeira reação foi sorrir, aquele
sorriso cansado, de quem recorda um passado com saudade, sabendo que ele não
vai mais voltar.
Logo, lágrimas começaram a brotar em meus
olhos e rolaram suavemente por minha face. Lembrei teu toque, tua boca, teu
sorriso e teus olhos nos meus.
Você, e apenas você conseguiu mudar aquela
menina tola. As dúvidas, as inseguranças e
todos os defeitos que você deixou para trás me fizeram olhar no
espelho de uma maneira diferente. Te vi me aceitando por inteiro, de uma
maneira que ninguém antes havia feito. Se você conseguia, porque eu não
conseguiria?
- Somos seres imperfeitos, são esses
“pequenos defeitinhos” que nos fazem especiais. Como a cicatriz no ombro que
você insiste em maquiar mostra tua história, ou essa teimosia irritante que te
faz correr atrás dos teus desejos não importa o que digam.
Você sorria em meu ouvido enquanto traçava
a cicatriz em meu ombro. Até hoje quando fecho os olhos consigo sentir teu
toque.
Você dizia que eu era tua menina, teu
projeto de mulher. O projeto continua inacabado, afinal, como você sempre
disse, nunca seremos concluídos, mas você não continua acompanhando o
desenvolvimento dessa obra como projetista principal.
Hoje já não maquio a cicatriz, aprendi a
usar minha teimosia de maneira correta, aceitei meus defeitos e vi minhas
qualidades.
A música termina, mas suas lembranças não.
Você eu tenho em mim. Sempre.