Um dia cinza. Duas garotas. Gotas de chuva caindo incessantemente. O mundo delas literalmente desabando.
Uma enfrenta brigas todos os dias em casa, os pai que bate na mãe, a mãe que apenas chora, e o irmãozinho mais novo que se esconde em baixo da cama. A solução para ela é se trancar no quarto e ligar o rádio no último volume para abafar os gritos que vem de fora e os dela, porque a única saída é gritar pra tentar expulsar a dor do seu peito.
A outra tem como carrasco as contas que não param de chegar. Sozinha em uma cidade que nunca foi a sua, ela vê que o sonho de se tornar médica não passa de mera ilusão. Há saídas ela sabe, mas não consegue encontrá-las.
Mas hoje elas sorriem.
Sabem que a vida não é um conto de fadas. Não há príncipe que virá resgatá-las e a história nem sempre termina em final feliz. Há muito tempo já descobriram isso. E mesmo assim ambas sorriem. Aquele sorriso bobo, enquanto pulam e brincam nas poças d'água feito crianças. Porque hoje elas deixaram os problemas pra depois, hoje elas comemoram por aquilo que ainda resta de bom. Estão juntas, sempre estiveram e sempre estarão. Vai ser assim elas sabem. Mesmo que tudo dê errado, mesmo que as coisas nunca se encaixem como deveriam, elas ainda terão uma à outra. Resistirão juntas. E isso é o mais importante.
Ali, naquela chuva elas sentem que ainda há uma esperança, nem que seja só um pouquinho.
Que ainda vale a pena seguir se elas estiverem lado à lado.
E ali, na chuva, elas entendem o verdadeiro sentido da amizade.