As luzes na árvore de natal piscam numa sincronia incessante - e irritante - enquanto ele bebe mais uam taça de vinho. A neve cai lá fora, indiferente, pintando de branco o peitoril da janela.
Olhando daqui, do sétimo andar, a cidade está linda: as luzes das janelas pontilhando a noite escura e ao longe uma música natalina, cantada provavelmente por algum coral que ainda resiste à neve. Aqui dentro está quente, mas ele treme de frio naquela solidão.
Não há presentes sob a árvore, nem ceia sobre a mesa, não há risos, nem abraços, apenas aquele vazio gelado que toma conta dele.
Sem perceber abre a janela, algumas gotpiculas de neve entrando e colando-se ao seu rosto cansado. Ele sempre quiz ver a neve, morar em um país gelado, e não é o que ele tem agora?
Apenas gelo.
É estranho pensar agora em tudo que deixou para trás, em tudo que planejou para o futuro e não conseguiu. Por isso ele não pensa, apenas dá um impulso e coloca o corpo para fora da janela em uma queda rápida.
Sua vida não passa diante de seus olhos, como sempre imaginou que aconteceria, ele apenas pensa em como foi bom não ter comprado aquele gato - já que agora não haveria quem o alimentasse - e sente a neve cada vez mais gelada.
Agora ele é apenas um corpo tingindo de vermelho a neve branca acumulada na calçada.
Vermelho e Branco: as cores dessa noite tão feliz.
ps: Feliz natal à todos!!